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Itapira, 24 de Novembro de 2024
Notícia
16/08/2021 | Luiz Santos: Vida Apologética: A antítese para o mundo

Apologética (do latim tardio apologet?cus, através do grego ?πολογητικ?ς, por derivação de "apologia", do grego απολογ?α: "defesa verbal") é a disciplina teológica própria de uma certa religião que se propõe a demonstrar a verdade da própria doutrina, defendendo-a de teses contrárias. Esta palavra deriva-se do deus grego Apolo. No cristianismo significa, grosso modo, a defesa da fé cristã com argumentos racionais, inteligíveis, que demonstrem não só a verdade, mas a validade e a possibilidade do conhecimento. No início da era patrística, surgiram os pais ‘Apologistas’ que produziram materiais para preparar os cristãos ao embate da defesa da fé. O período dos ‘Apologistas’ durou entre 150 e 300 d.C. Dentre esses se destacam Justino Mártir, Tertuliano, Irineu e Orígenes. Grande parte do trabalho desses homens foi defender a fé cristã dos ataques e difamações dos pagãos, bem como a afirmação da superioridade espiritual e moral do cristianismo, desconstrução das falácias mitos pagãos e da pretensão divina de César. Notadamente, a exceção de Tertuliano, os apologistas abusaram da filosofia platônica e neoplatônica para poder tornar o seu discurso mais atraente e mais compreensível a uma cultura que estranhava o Evangelho. Isso não quer dizer que não eram bíblicos. A apologética foi muito necessária para a devida defesa da fé, mas também para fazer a comparação entre dois mundos e dois tipos de homens. O mundo da igreja sob o Senhorio de Cristo e o mundo pagão sob a influência dos ídolos e sob o governo de César. O homem nascido de novo, nova criatura e agora capacitado para fazer o bem e viver uma vida virtuosa e o homem carnal, escravo de suas paixões e incapaz de se livrar dos seus vícios. A apologética fazia da vida cristã uma antítese para o mundo. Não obstante tenhamos tratados, escritos e homilias de natureza apologética que merecem serem lidas como: ‘Contra Celso’, ‘Contra Trifão’, ‘Contra Marcião’, ‘Carta a Diogneto’, ‘’Contra os Hereges, essas obras não foram a causa definitiva para o convencimento da racionalidade, da verdade e da superioridade da vida cristã. Por mais capazes que foram os apologistas, as suas obras tiverem sempre um impacto limitado, ainda que formativo e útil, mas limitado no tempo e no espaço. Entretanto, o imperativo da vida evangélica venceu as fortalezas intelectuais, convenceu as mentes mais obtusas, sensibilizou os corações mais empedernidos e ‘amansou’ o homem mais cruel. No centro de uma sociedade caída e decaída pela imoralidade, pela violência e corrupção dos poderosos e pelo desprezo à vida, a igreja cristã sinalizou pela antítese de seus valores, de suas crenças, de suas celebrações e pela natureza amorosa, pura e casta de suas relações um tipo de vida atraente, convincente, desejável. É verdade que essa mesma vida virtuosa atraiu a ira dos que se sentiam acusados de suas depravações e não poucos santos foram agraciados com o dom do martírio. A solenidade, a serenidade e um orgulho santo demonstrado pelos cristãos diante de seu algoz, atados a uma estaca para serem queimados ou diante de feras selvagens nas arenas, provocou um efeito colateral inesperado nos inimigos da fé. Não são poucos os relatos de homens e mulheres que testemunhando o heroísmo dos mártires pularam das arquibancadas para o centro do anfiteatro na esperança de compartilhar da sorte daqueles santos, na esperança de serem “batizados em seu sangue”. E tudo isso, muitas vezes, sem grandes discursos. Às vezes apenas um murmúrio elevado aos céus, um salmo entoado, a invocação de Jesus como o Kyrios, Senhor, em contraponto a César ou uma frase que esculpiria a nossa consciência, como as ditas por Policarpo, Inácio de Antioquia, Perpétua e Felicidade, Inês, Cecília e tantos outros desconhecidos dos homens, mas não de Deus. Esse testemunho cruento levou Tertuliano a exclamar: ‘O sangue dos mártires é semente de novos cristãos’. Vivemos dias igualmente hostis para o Evangelho de Cristo, ainda não estamos sofrendo uma perseguição que nos leve ao martírio, pelo menos não o do derramamento de sangue. O martírio para o qual estamos sendo arrastados é aquele lento, incruento, onde o sangue não é derramado, mas a vida em uma obediência sofrida, porém contínua, não obstante todas as adversidades deste tempo ‘filotransgressista’ que pode ser assim tipificado: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo” (Is 5.20). Esses nossos dias em que testemunhamos um sistemático ataque à fé cristã, aos valores morais e éticos tão caros a nós e que cremos serem as bases sólidas para a vida feliz e a plena realização humana, dias em que a nossa mensagem não é suportada e o nosso estilo de vida às vias de ser criminalizado, precisamos recuperar essa vida apologética. Os discursos são necessários, somos a religião do livro e da fala. Precisamos estar preparados para dar as razões da nossa esperança (1Pe 3.15-16), é um fato. Mas não lograremos êxito se tudo o que fizermos se esgotar na aceitação da provocação e na procura de respostas racionais. O século 21 necessita da mesma força irresistível dos séculos 2 e 3: a exemplariedade de uma vida santa, alegre, cheia de boas obras e virtudes, radicalizada no amor a Deus e no amor casto por todos os homens. Precisamos que a nossa vida grite bem mais alto que as nossas vozes.

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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