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Itapira, 16 de Janeiro de 2025
Notícia
01/03/2012 | Marcio Carlos: A História da Igreja Brasielira em Itapira

IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA BRASILEIRA NASCIDA EM ITAPIRA NO ANO DE 1913.
FUNDADOR: CÔNEGO MANOEL CARLOS DE AMORIM CORREIA

 

SUMÁRIO

De tempos em tempos, as pessoas que professam alguma religião, os mais devotados, os mais esclarecidos, em resumo, aqueles que ultrapassam as barreiras dos limites humanos, sentem-se guindados pela razão e fé, que lhes são próprios, vividos intensamente em suas vidas e de acordo com suas construções cognitivas e psíquicas, a procurar outros caminhos, porque este ao qual andam, não lhes dizem mais o que querem saber.

Tomo a Icab, como pesquisa, pois, a mesma nasceu em Itapira em 1913. Uma igreja nacional, com cores nacionais e uma desproporcional luta contra a Igreja Romana. De forma alguma, a Igreja nascida em Itapira naquele ano de 1913 é a mesma fundada pela Bispo Dom Carlos Duarte da Costa. A Icab Itapira teve personalidade e caracter próprios e, foi fruto de um momento religioso e politico, digo isto, em relação as pessoas que migraram para ela. Os argumentos poderiam ser usados contra qualquer igreja, naquele tempo como no presente. Portanto, não cabe aqui nenhuma censura à igreja Brasileira nascida em 1945, porque não estou escrevendo sobre a atual. Qualquer pessoa poderá comparar, com fiz no final deste trabalho, as diferenças de ideais, estrutura e posicionamento social e religoso no Brasil. Veremos no correr deste trabalho, como surgiu, quem foi o fundador, os fatos que levaram-no a fundar uma igreja nova, amalgâmica com a estrutura e profissão de fé da Igreja Romana. O temperamento do fundador e a guerra travada pelos jornais da época. Os escândalos e o declínio da Icab Itapira. Na seqüência continuamos com o ressurgimento da Icab em 1945, no Rio de Janeiro com Dom Carlos Duarte da Costa, onde novamente se constitui grande alvoroço por parte da mídia e dos intelectuais. Falamos um pouco da historia de Dom Carlos, de seu “manifesto à nação” e, da continuidade da Icab até os dias de hoje.

ÍNDICE DOS ASSUNTOS

INTRODUÇÃO
ORIGEM DO CISMA
FUNDAÇÃO DA ICAB
MORTE DO PATRIARCA E DECADÊNCIA
OUTROS FATOS
BISPO DE MAURA
IDEIAIS DAS ICAB’S
AGRADECIMENTOS
CRÉDITOS DE PESQUISA
 

INTRODUÇÃO
Itapira, como qualquer outra cidade brasileira, nasceu da vontade de antigos moradores. Nos idos de 1820, alguns desbravadores sob a influência da fé católica iniciaram a derrubada de mata, para construir uma capela, em honra e devoção a Nossa Senhora da Penha, imagem recebida dos antepassados de João Gonçalves de Moraes, um dos fundadores de Itapira. Outro nome que aparece nos livros históricos da cidade, é de Manoel Pereira da Silva. Até 1824, ainda império de Dom Pedro II, celebra a primeira missa, nessas terras, o Padre Antonio de Araujo Ferraz (ITAPIRA E SUA HISTÓRIA). A vila, formada por gente simples, prosperou, alcançando anos mais tarde, a condição de cidade.  Salienta-se que este povo não tinha instrução, lapidados no trabalho bruto do campo, imersos em crendices e, sob a influência da Igreja Católica, que na época, passava a mensagem da salvação mas sem explicações detalhadas sobre sua estrutura e missão. Era muito mais iconográfica que racional. As cerimônias eram em latim e o sacerdote tinha uma importância enorme na comunidade. Condições bastante favoráveis, para que noventa anos depois, pudesse acontecer um cisma, que teria conseqüências inesperadas para a Igreja no Brasil.


QUEM FOI O CÔNEGO AMORIM ?

   Cônego Manoel Carlos de Amorim Correia

 

Nasceu em Mujães, província de Minho, Portugal, em 30 de julho de 1873, em uma família católica. Foi batizado dois dias depois na Igreja Paroquial de Mujães. Veio pequeno para o Brasil, com sua mãe viúva e seus dois irmãos. Aqui, recebeu sua formação eclesiástica. Posteriormente, sua mãe e irmãos voltaram a Portugal, onde ela veio a falecer em 1914.
 Cursou o ginásio no Colégio dos Padres Salesianos em Lorena. Ingressou em São Paulo no Seminário Episcopal, sob a proteção de Monsenhor Manuel Vicente. Recebeu a primeira tonsura em 31 de julho de 1897, no Estado do Espírito Santo, de Dom João Baptista Correa Nery. Recebeu as Ordens Menores a 22 de junho de 1902 de Dom A.C. Alvarenga. O subdiaconato e o Diaconato em 1 e 2 de novembro de 1903 das mãos de Dom Nery, bispo de Pouso Alegre. Recebeu o Presbiterato das mãos de Dom Julio Tonti, Núncio Apostólico (Embaixador do Vaticano) na Catedral de São Paulo, a 8 de novembro de 1903. Cantou sua primeira missa em 8 de dezembro de 1903, na Matriz da Consolação, em São Paulo. Exerceu seu ministério sacerdotal nas paróquias da Consolação e Jundiaí como coadjutor e, em Bananal, Araras e Itapira como Vigário. Nesta última em 1909.
 Portanto, se tratava de uma pessoa que conhecia muito bem a Igreja Romana e que foi moldado pelos bispos mais importantes da época. Gozava de muita amizade e profundo relacionamento com todos eles, principalmente com Dom Nery.

                                                                            Bispo Dom João Baptista Correa Nery

 

Mas, volvamos o nosso olhar para as duas últimas cidades anteriores à Itapira. Bananal e Araras. Segundo o livro “O Papa Verde-Amarelo” de Jacomo Mandatto, Amorim sofreu reveses nessas comunidades. É interessante ver o comportamento de Amorim em Bananal.
 Conforme pesquisa feita na internet, no site “História de Itapira” de Sergio de Freitas, passo à transcrição do texto relatada por testemunha ocular dos acontecimentos:
““ Historia de Bananal e o Padre Amorim – Deparamos com o seguinte texto abaixo ao pesquisarmos a ”Pequena História de Bananal”, as pag., 293 e 294 do autor Agostinho Vicente de Freitas Ramos. Esta obra foi editada pela Secretaria de Cultura, Ciências e Tecnologia – Coleções Históricas – Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, SP em 1978.  Achamos por bem retroceder as origens históricas e eclesiásticas do Padre Amorim antes de sua vinda para Itapira. Podemos observar que desde aquela época (1906) quando assumiu suas funções eclesiásticas na cidade de Bananal, o Padre Amorim já possuía uma verve polêmica, dificultando a compatibilização do sacerdócio com sua personalidade intolerante, vingativa e prepotente.
(pela cópia) 1906 – setembro -27 – “A Palavra” – redator chefe – Padre Manoel Carlos de Amorim Correia (português); gerente – Teseu Tressoldi; editor -  Benedito Vitorino da Costa. Esta folha é consagrada à religião católica e aos interesses do município de Bananal. “ Verbum dei non est aligatum”.
NOTA: Padre Amorim Correia era ditador, violento e arbitrário. Além de pároco, tornou-se logo provedor da Santa Casa.
Na direção de seu jornal excedia-se, até que um dia, Izaltino de Mello, diretor do grupo escolar, situado quase junto a Matriz, reclamou pela “A Voz do Povo”, jornal dirigido, criteriosamente, por Isaac dos Santos Coelho, contra aquele bimbalhar constante de sinos. Foi o bastante – Amorim, ao ler a reclamação, chamou Benedito e mais auxiliares, mandando que fizessem soar estridentemente todos os sinos da matriz, durante mais de uma hora. Izaltino de Mello, no numero seguinte de “A Voz do Povo” – escreveu o célebre artigo intitulado “Selvageria” que permanece na memória dos bananalenses ....”nossa cordata e ordeira população, habituada...”. Então, teve inicio a luta.
Padre Amorim faz do púlpito sua tribuna de ataque e de censura. Eis, que falece Jose Monteiro Gonçalves (português), na Rua Comendador Manoel de Aguiar, onde, possuía uma sapataria. Irmão remido da Santa Casa, tinha direito de, aí ser sepultado. Padre Amorim se opôs tenazmente, sob alegação de que Monteiro não tinha direito. Vários elementos muniram-se de malhos, para arrombar o portão da Santa Casa que dá para o cemitério. Criou-se um ambiente sombrio. O enterro fez-se, mas o povo queria a saída do padre. E os grupos se formaram pelas esquinas. Era mais de oito horas da noite. Otávio Ramos, chefe indiscutível, percebendo a tragédia e, embora inimigo do padre, foi até a igreja e disse-lhe: “daí-me vosso braço, sigamos; vossa vida corre perigo”. E, da matriz ao sobrado onde funciona o grupo escolar, Amorim Correia, entre alas de inimigos. No dia seguinte, o comboio para frente à chácara do Coronel Pedroca, para recolher o padre Amorim que se dirigiu para Araras e depois Itapira, onde fundou a célebre Igreja Brasileira que tanto mal fez à religião católica, não só pelo mau exemplo de apostasia como e, principalmente, pela falsa doutrinação.”
Segundo informações colhidas no livro “O Papa Verde-Amarelo”, de Jacomo Mandatto, sobre Araras, encontramos a seguinte matéria:
“Em Araras, Amorim, percebeu a falta que fazia à população um hospital e, assim pensando, resolveu fundar uma Santa Casa de Misericórdia. Contudo, um grupo de ararenses já havia tomado à si a incumbência de prover a cidade de tal melhoramento. Será, que a cidade foi informada dos acontecimentos em Bananal? Desgostoso e contrariado nos seus intentos, Amorim, solicitou sua transferência para outra paróquia e, o bispo de Campinas, Dom Nery, encaminha-o para Itapira, sucedendo ao padre Bento Dias Leme.”

Em 25 de setembro de 1909, quando de sua chegada a Itapira, Amorim, foi recebido com grande festa e júbilo. Mostrou-se empreendedor e dinâmico. Fez várias melhorias no serviço ao povo, incluindo aí a conquista da vinda de Dom Nery, numa visita pastoral e administração da Crisma, que por mais de trinta anos não acontecia na cidade. Com isto, aumentou mais ainda seu prestígio junto ao povo e ao bispado. Em contraste com sua imensa atividade, Amorim, tinha uma saúde frágil. Após esses acontecimentos, caiu enfermo por vários meses, sempre amparado por seus paroquianos e amigos.
Outra atitude de Amorim, foi proibir que se fizessem quaisquer atos de fé na “Igreja da Santa Mãozinha Aparecida”. Naqueles tempos, a ignorância aliada às superstições, transformaram um fungo nascido numa porta do edifício, na forma de uma mão espalmada de um ex-escravo, que morrera ali de lepra. Que somente após a nova edificação do templo e as bênçãos apostólicas do bispado de Campinas, é que se poderia usá-la para tal fim. Isto é, como templo e não como culto a tal crendice. Mal sabia Amorim, que aquele local serviria como templo da ICAB quatro anos à frente.

ORIGEM DO CISMA
Em 1912, começa a circular a noticia que o Vigário vivia em sua chácara, com uma mulher de má reputação. A mulher em questão é Cantídia Menezes Sampaio

  Todos supunham que ela não era só governanta na chácara Paraíso, propriedade de Amorim. Isto, para os católicos, era um escândalo. O bispo, Dom Nery, chama Amorim para tratar pessoalmente do caso. Em Campinas, chegam ao entendimento de que Amorim Correia deveria afastá-la de sua vida. Essa separação aconteceu por um tempo. Depois, tudo voltou como era antes, como Cantídia queria. O fato mais consistente que Cantídia coabitava com Amorim, confirma-se pela nota de agradecimento que ela fez pelo jornal quando do falecimento do Cônego. No jornal, A Gazeta do Povo, de São Paulo, em 20 de fevereiro de 1913, o jornalista narra a escandalosa união ilegítima e impensável para um sacerdote como a de Amorim e Cantídia, afirmando que em testamento, o sacerdote havia deixado tudo o que era seu,  para sua amante. O Cônego João Moyses Nora de Mogi Mirim, também confirma esta afirmação.
 Fabiano Jose Bueno Sobrinho, que foi considerado amicíssimo de Amorim, declarou: “que o sacerdote bebia demais e ficava até altas horas jogando ou divertindo-se com seus amigos.” Menotti Del Picchia escreveu: “ o que não pode nem o episcopado e a política, fez o lúpulo e a cevada.”
 Amorim, que era também jornalista, haja vista, como ele dirigiu o jornal católico em Bananal, tinha verve política e temperamento forte quanto a defender suas idéias. Na dissertação de mestrado, de Arnaldo Lemos Filho, sob o título “ Os catolicismos de Itapira”, mostra o quanto a elite itapirense ajudou a igreja matriz. Por sua vez, Amorim, preferiu a companhia dos pequenos comerciantes, negros e pobres, rivalizando com as necessidades dos dirigentes políticos e católicos do município. Fica óbvio, a animosidade causada na classe de pessoas que tinham formação social e, ciência das atitudes do pároco.
 Isto iria redundar em reclamações e pedidos para o afastamento do sacerdote. Dom Nery sabia da vida de Amorim, porque como já vimos, estiveram juntos em muitos episódios, nas suas passagens por algumas paróquias. Para ser ordenado, Amorim, naquela época, pediu a ajuda da mãe deste bispo, para que interviesse a seu favor. Nas declarações de Nora e nas anotações informais no livro encontrado na Igreja Matriz de Itapira, o Padre Henrique de Moraes Mattos, sob o pseudônimo de “Euzebius Ignatus”, também põe uma nota aludindo ao fato do reitor do Seminário relutar por diversas vezes em sua elevação como sacerdote. Dom Nery percebeu que deveria fazer algo para paralisar os desvarios do vigário mas, sem causar nenhum novo escândalo envolvendo a Igreja. A saída é transferi-lo de Itapira. Em outubro de 1912, envia carta, avisando-o que sua jurisdição sobre Itapira terminaria em dezembro desse mesmo ano. Faz saber à população que a paróquia seria encampada por Campinas e que a cidade sediaria novo seminário para descanso e  progresso espiritual de aspirantes às Ordens.
 O Jornal “Commercio de Itapira”, pertencente à Ludovino Andrade,  grande amigo  de Amorim, em 29 de dezembro de 1912, estampa na primeira página, matéria sobre os problemas entre o padre e o bispo. Amorim é dispensado de realizar ofícios na matriz. Parte então para a igreja de São Benedito, que pertencia à irmandade do mesmo nome. Também lá, ele é impedido, pois, a irmandade fecha a igreja por tempo indeterminado. 
      

                                                             
 Em 25 de janeiro de 1913, Dom Nery suspende Amorim de suas ordens sacerdotais. Essa suspensão ocorre porque chega aos ouvidos do bispo que Amorim amotinou as irmandades para não obedecer suas ordens. Aconteceu em dezembro de 1912, no Theatro Santana, em Itapira, reunião de desagravo, onde as irmandades e o povo recusavam a saída de Amorim da igreja matriz. Em 26 de janeiro de 1913, Amorim, pelo jornal, exige uma retratação do bispo, no sentido de Dom Nery apontar quem o acusou de revoltar o povo.
 Tudo o que Dom Nery não queria. Amorim tratava de assuntos de interesse eclesiástico através de um jornal. Como consta no Código Canônico, nunca o padre poderia ter feito semelhante ato.

FUNDAÇÃO DA ICAB

 

Em 30 de janeiro de 1913, Amorim funda sua igreja nacional. No dia seguinte, Dom Nery cria o seminário e empossa outro vigário na matriz. Em 02 de fevereiro de 1913, o jornal “Commércio de Itapira” descreve os motivos do surgimento da ICAB. No dia seguinte, Dom Nery assina a ex-comunhão do Cônego Manoel Carlos de Amorim Correia.

 

 Chácara Paraíso – sede da nova igreja

 

Uma vez fundada, a nova seita precisava se propagar. Amorim e Bino Bispo (Ludovino Andrade - dono do jornal) procuram trazer ovelhas ao rebanho. Amorim vai a São Paulo. Dá entrevistas. Com auxilio de ex-padres, como Francisco Frederico Arditi, italiano, procura expandir sua igreja para outras cidades e estados. O proselitismo de Amorim era de causar espanto, pois, a pessoa não conseguia distinguir diferenças entre os catolicismos e, aceitava a decadência da Igreja Romana como algo liquido e certo.

Termino da primeira parte. Irei postar mais duas. E só acompanhar. Abraços

 

 

Fonte: Marcio Carlos

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