Gilberto Costa
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Lisboa – Os brasileiros que forem a Lisboa até 27 de outubro têm como opção de lazer cultural e histórico conhecer cerca de 100 cartazes e outras peças (teatro de sombra e publicações) que o Partido Comunista Chinês (PCC) utilizou para fazer propaganda política durante o período da Grande Revolução Cultural Proletária ou apenas Revolução Cultural (1966–1976).
O evento corresponde ao endurecimento do sistema socialista chinês e, durante dez anos, serviu como campanha permanente para promover a figura de Mao Tsé-Tung (morto em 1976), para glorificar o comunismo como modelo de organização social e enaltecer a China como potência econômica. A revolução também perseguiu, condenou e eliminou dissidentes e quadros concorrentes dentro do PCC. Além disso, a campanha afastou a influência da então União Soviética e foi usada para veicular internamente a imagem negativa do Ocidente.
A China adotou a revolução seis anos após o fracasso do chamado Grande Salto (1958-1960) - o programa de governo com que Mao Tsé-Tung tentou modernizar o país, aumentar a produção industrial e agrícola. “Foi uma coisa desastrosa. Conduziu o país à fome porque, entre outras coisas, procurou a coletivização dos campos”; avalia Maria Manuela d'Oliveira Martins, diretora do Museu do Oriente, ao lembrar que o processo ocorreu com extrema violência do Estado - que impôs trabalho rural e matou mais de 1 milhão de antigos proprietários. “Isso foi uma utopia levada ao extremo”, assinala.
O material de propaganda política em exposição traz muitos retratos de Mao Tsé-Tung: mostra famílias lendo o Livro Vermelho (com citações do líder do PCC), projeta uma China desenvolvida, homogênea e harmoniosa, tendo três classes fundamentais e solidárias - camponeses, trabalhadores industriais e soldados. Há imagens do Exército chinês (às vezes em aliança com outros países socialistas) superando os americanos e o imperialismo yankee e também ilustrações de um pancomunismo em cenas de encontros internacionais com lideranças e militantes de outros países (latino-americanos, árabes e africanos) que defendiam o mesmo regime.
Os cartazes foram extremamente importantes em um período do século 20 quando não havia televisão na China, o rádio não alcançava todo o território chinês e nem havia aparelhos em todas as residências. Era um veículo poderoso porque ajudava o governo de Mao se comunicar com uma imensa população pobre e analfabeta (85% do total) e sem condições de ler um jornal.
O material impresso produzido pelo Departamento de Propaganda do PCC permitia a compreensão fácil (fazia uso de ilustrações demonstrativas e recorria a figuras conhecidas da população, como as das celebração do Ano Novo chinês), tinha uma composição de cores quentes e chamativas (vermelho, amarelo e laranja, comuns hoje em lanchonetes ocidentais tipo fast food) e, muitas vezes (sem qualquer palavra), veiculava o sentimento que o governo desejava cativar. Segundo Maria Manuela Martins; vale a pena ver o material também “do ponto de vista estético”.
O material pertence ao acervo do Museu do Oriente, que funciona desde 2008 e é um dos principais locais na Europa para estudar o encontro das culturas do Ocidente e do Oriente. Na exposição permanente também é possível conhecer artefatos e obras de arte produzidos na China, no Japão e na Índia – há peças contemporâneas, assim como objetos que remontam à passagem das navegações e à presença colonial portuguesa na Ásia. O Museu do Oriente é um dos 55 reconhecidos pela Câmara de Lisboa (prefeitura).
Edição: Graça Adjuto
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