Do ponto de vista técnico - é a ONU quem diz - o álcool provoca nos consumidores habituais sessenta tipos de problemas, entre eles, cirrose, ataques cardíacos, epilepsia, envenenamento e alguns tipos de câncer. Os números decorrentes do uso de álcool são assustadores. Só no Estado de São Paulo, uma pessoa é internada a cada 20 minutos. Entre os menores de dezoito anos, o uso abusivo e constante, pode levá-los à demência e, na medida em que o usuário envelhece, aumenta o risco de perda do volume cerebral ao afetar o córtex, o sistema límbico, o cerebelo, o hipotálamo, a glândula pituitária e a medula. A bebida que se usa para descontrair e facilitar o relacionamento entre as pessoas pode acabar, na sequência, criando um comportamento antissocial, levando o indivíduo ao isolamento.
Falar dos malefícios do álcool é como chover no molhado. Quase todo mundo tem noção básica das perturbações possíveis. O problema é que a maioria só prevê consequências funestas à frente do nariz. Entretanto, o consumo de álcool por menores vem chamando à reflexão uma questão paralela, que não integra as discussões cotidianas sobre o tema, mas que afeta todos os consumidores, aqueles que poderão desenvolver algum tipo de doença ou não, e até aos não consumidores: o aprendizado precoce de que as leis podem ser burladas.
Todos nós sabemos que a venda de bebida alcoólica é proibida para menores, faz tempo, uma proibição desrespeitada dentro e fora de casa. Considerando que é característica do adolescente considerar-se já devidamente formado - dono do próprio nariz – para colocar-se acima das regras e das leis é um tapa. “Não deveriam existir essas leis. Cada um deve fazer o que bem entender.”, diz-se desde antanho.
Muitos pais orientam os filhos sobre o consumo de álcool. Vários, crentes de que suas determinações são cumpridas, dormem tranquilos imaginando seus herdeiros conhecedores dos limites e sabedores da hora de parar ou que eles, simplesmente, não bebem. Lamentavelmente não é bem assim que as coisas acontecem com todos. Sabe-se que na rua, nos encontros, nos bares e nas baladas muitos adolescentes chegam a brindar a ingenuidade dos pais. É quando incorpora a ideia de que a lei, familiar ou da sociedade, não tem valor, nem necessidade. Quer saber? Nem sei o que é pior: os malefícios do álcool para a saúde ou a construção de que uma sociedade pode evoluir sem estabelecer regras de convívio social.
Entrou em vigor nesta semana a medida que alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente que pune com prisão por até quatro anos quem vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar bebida alcoólica a adolescentes ou crianças e, dependendo do caso, o infrator poderá ser multado entre R$ 3 mil e R$ 10 mil e ver seu estabelecimento interditado. Ufa! Já não era sem tempo.
Obviamente, muitos comerciantes deverão continuar fazendo “vistas grossas”, vão querer correr o risco em nome do lucro, mas poderão mudar de ideia, em pouco tempo, assim que essa lei produzir resultados práticos. Espera-se que o Ministério Público e órgãos responsáveis cumpram o papel que lhes cabem. Os adultos e os familiares mais atentos devem ajudar a acelerar o processo. Afinal, esse assunto pode se transformar em desgraça para qualquer família. Que Deus nos livre, com a nossa ajuda.
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