Os seres vivos desenvolveram o mecanismo da associalização. Quanto mais fragilizado fisicamente, mais complexa era a organização. A sociedade - a união - dava a força adicional para o enfrentamento cotidiano. O ser humano - o mais fraco - não conseguia resolver todos os seus problemas apenas com os agrupamentos sociais. Nascia a necessidade de desenvolver outra ferramenta: a inteligência, para criar armadilhas e planejar estratégias. A institucionalização da sociedade e o desenvolvimento da inteligência foram os garantidores não só da nossa permanência sobre a face da Terra, como na dominância sobre as demais espécies. Sobre nós, também.
No princípio, a união servia para nos defender dos nossos inimigos naturais: os grandes carnívoros. Mais tarde ela foi ampliada para a coleta e produção de alimentos e proteção territorial. Com o desenvolvimento da inteligência esperta, surgiram os ideais imperialistas, a busca pelo poder e as falsas lideranças. Passamos milhões de anos fechados em pequenos grupos, construindo grandes fileiras de inimigos. Fazendo desse mundo um verdadeiro inferno, maioria miserável e faminta, legião de escravos, saúde precária, educação inexistente... Fazíamos do céu, a melhor morada. Tempo em que tínhamos grandes dificuldades para passar dos trinta anos de vida. Imperava o ódio e o rancor.
Periodicamente, brotava aqui e acolá algumas exceções à burrice. A inteligência pipocava em outras áreas com maior frequência, até interrompermos a tênue ascensão para penetrarmos na treva milenar. Renascemos nas artes, vasculhamos oceanos, revolucionamos as instâncias políticas e sociais, remodelamos a produção industrial, desenvolvemos a agricultura até avançar tecnologicamente a partir da segunda metade do século passado e não parar mais. A inteligência crescia e aparecia. O mundo passaria a ser mais pacífico e ordeiro. Caminhamos para o fim da barbárie. Somos mais amigos.
Não é preciso estudar muito para concluir que a ação de fazer amigos e parceiros é moderna. A de fazer inimigos, antiga, ultrapassada. É impressionante, no entanto, a quantidade de trogloditas viventes neste mundo.
Hoje, a atividade social, graças à ação conjunta com a inteligência, evoluiu para o entretenimento e para o relacionamento humano, levando-nos a abandonar o egocentrismo e a prepotência. Uma vida mais agradável e feliz. Vivemos mais e melhor, mas nem todos na mesma situação. Não é difícil imaginar que o troglodítico nas estâncias de poder, nos desacelera.
A inteligência, quase sempre, é substituída pela esperteza à custa da infelicidade alheia, à cata de mecanismos de distanciamento das pessoas, tendo o isolamento como paga pela conquista do império.
É de arrepiar saber da existência de indivíduos carregados de ódio, rancor, vingança, prepotência e desinteligência, à solta pelo mundo para, a qualquer momento, por deslize democrático ou por força bruta, assumir governos de países, de províncias ou de cidades. Exemplos não faltam.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.