“ Li hoje quase duas páginas
do livro dum poeta místico,
E ri como quem tem chorado muito.
Os poetas místicos são filósofos doentes,
E os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem
E dizem que as pedras tem alma
E que os rios tem êxtase ao luar.
Mas se as flores, se sentissem, não eram flores,
Eram gente
E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não eram pedras,
E se os rios tivessem êxtase ao luar,
Os rios seriam homens doentes.
É preciso NÃOSABER o que são flores, pedras e rios
Para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios
É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios
E que as flores são apenas flores.
Por mim, escrevo a prosa dos meus versos
E fico contente,
Porque sei que compreendo a Natureza por fora,
E não a compreendo por dentro
Porque a Natureza não tem dentro,
Senão não era a Natureza.”
Poesia dos Outros Eus. Fernando Pessoa
Quiçá pensar! O que haveria de ser a Natureza se não fosse o que é?
O que haveria “eu” de ser se não fosse aquilo que sou?
Poderiam flores sentir? Pedras terem alma? Rios êxtases ao luar?
Então. Dessa reflexão cósmica, me recolho na minha insignificância e penso que precisamos aprender a suportar o “NÃO-SABER”.
Ia fechando o meu escrito quando lembrei de Sócrates ter dito:
“Só sei que nada sei”.
O autor é Psicanalista e possui Especializações em: Mitologias (CEFAS), Sonhos e Símbolos (SPAG), Ópera e Psicanálise (Unicamp), Transtornos Psicossomáticos (S.N.H), Neurociências e Psicanálise (Soc. Psicanalítica de Campinas), Psicoterapia Psicanalítica de Grupo (CEFAS) e atualmente especializa-se em: Intervenção Psicanalítica nas Instituições.