Passeata atraiu cerca de 1.500 participantes que escancaram descontentamento contra classe política
A inclusão de Itapira no roteiro de protestos que agitaram o país na segunda quinzena do mês passado ocorreu de maneira pacífica e tranquila. Segundo cálculos da Polícia Militar, cerca de 1.500 pessoas participaram da mobilização que teve como ponto de encontroa Praça Bernardino de Campos.
Por volta de nove horas da manhã ( uma hora antes do horário marcado para o início da passeata) já havia movimentação de pessoas chegando ao local. Um grupo de pessoas se posicionava junto ao monumento das bandeiras, transformado-o em espécie de usina de cartazes. Cartolinas e canetas hidrográficas e frases prontas estavam à disposição das pessoas.
O público predominante era de adolescentes. Mas havia também muitas pessoas de todas as idades, inclusive, famílias inteiras participando do evento. Outro detalhe que chamou a atenção foi a presença quase que exclusiva de pessoas de classe média. Não foram vistas bandeiras partidárias e houve até quem usasse do ato para fazer merchandising de produtos evangélicos.
A passeata saiu da Praça no sentido da Rua José Bonifácio às 10h15. No meio da multidão muitos apitos, pessoas com rosto pintado nas cores verde –amarelo, portando bandeiras do Brasil, máscaras de Guy Fawkes e é claro, o mar de cartazes que se formou com palavras de ordem de toda a espécie, misturando temas locais e outros que se tornaram chavões depois das mega manifestações em São Paulo, do tipo “queremos hospitais com Padrão Fifa”.
Muito tempo antes do seu início , a movimentação era assunto dominante em toda a área central. Comerciantes, precavidos, baixaram as portas. Ainda sim, muitos deles, ao lado dos funcionários da loja, assistiram de “camarote” ao protesto. Os manifestantes saíram da José Bonifácio, tomaram rumo da Avenida Rio Branco, foram até as imediações da Estação Rodoviária, retornaram ao centro da cidade, foram até a Prefeitura e um pequeno grupo foi até a Vila Bazani,na rua dos Andradas, onde reside o Prefeito José Natalino Paganini.Lá um grupo de Gms fez um cordão de isolamento. Apesar disso, o clima foi amistoso, sem qualquer tipo de incidente.
Foi montado esquema de policiamento ostensivo,mas o clima foi de absoluta tranquilidade
Comerciantes, precavidos, baixaram as portas
Estima-se que cerca de 1.500 pessoas protestaram
A nova geração dos “caras-pintadas” deu o ar da graça
Evento reuniu famílias inteiras
Teve gente que tratou de aproveitar a mobilização para faturar
A concentração da multidão correu na Praça Bernardino de Campos
O professor Flávio Mazetto condenou revistas e presença do policiamento na Câmara
Self-Service: manifestantes retiravam e faziam seus cartazes antes da passeata começar
Câmara Municipal se torna palco predileto de manifestantes
Após a bem sucedida passeata de protesto realizada no sábado passado, 22, um grupo estimado em torno de 100 manifestantes se dirigiu na terça-feira, 25, até a Câmara Municipal, repetindo mobilização verificada uma semana antes, quando alguns manifestantes chegaram a agredir verbalmente e intimidar os parlamentares.
Receosos de que pudesse ocorrer algo de anormal – como os atos de violência e vandalismo registrados em diversas manifestações país afora - a presidência da Câmara requisitou a presença de Guardas Municipais, alguns dos quais, chegaram a promover uma revista dos manifestantes que conseguiram acesso ao plenário, provocando indignação de algumas lideranças (veja nesta página) .
Apesar das dificuldades de se controlar principalmente o voluntarismo com que alguns manifestantes se expressam em situações iguais a esta, a participação dos manifestantes foi ordeira e pacífica. Foi entregue ao presidente Carlos Alberto Sartori( PSDB) uma pauta de reivindicação contento elementos difusos, como por exemplo a insistência de que os vencimento dos Secretários sejam reduzidos a valores pagos anteriormente.
Em tom de cordialidade, os vereadores receberam o documento. Coube ao líder do prefeito na Casa, vereador Rafael Donizete Lopes (PP) conduzir até o Prefeito José Natalino Paganini as reivindicações constadas no referido documento e prometeu que os assuntos ali listados seriam objeto de análise. A se julgar pela disposição manifestada pelo público, que mais uma vez fazia uso de cartazes com palavras de ordem, este tipo de pressão tende a ser uma novidade com a qual os vereadores deverão se acostumar daqui para frente. Uma manifestante disse, sob condição de sigilo de sua identidade, que o movimento não irá arrefecer até que uma a uma das reivindicações sejam atendidas.
Flávio Mazetto:“Impossível saber onde este movimento vai desaguar”
Dono de um censo crítico aguçado, uma da principais lideranças do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) aqui da cidade, o professor de sociologia Flávio Eduardo Mazetto é uma das pessoas que ainda se debruçam sobre os acontecimentos que fizeram deste mês de junho um marco na vida civil do País. Ele disse que no seu caso, a grande surpresa ficou por conta “da amplitude do movimento”. “ Nós que temos uma experiência e uma razoável militância em organização de movimentos populares sabíamos da existência de sintomas de descontentamento represados que mais dias, menos dias, seriam de uma forma ou de outra extravasados. Com toda certeza ficaram mais surpresas aquelas pessoas alheias ao processo político, grupos que temem e demonizam este tipo de comportamento pelo que ele representa como instrumento capaz de estancar privilégios que têm sido fator de uma inegável segregação social que toma conta do país”, avaliou.
Acha que a difusão de temas conectados entre si nas manifestações expressam um sentimento de aversão à forma com que a classe política e dirigente conduz o debate político. “Os canais existentes de participação do tipo conselhos municipais são conduzidos de forma a afastar e não aproximar as pessoas das discussões de temas de seu interesse. Marca-se encontros em horário onde a maioria está trabalhando, usa-se uma linguagem hermética, empolada, técnica demais, que além de não esclarecer, serve para confundir os que não são familiarizados com certos assuntos. Portanto não me surpreende que de repente se proteste contra quase tudo o que está aí”.
Questionado porque nem ele nem outros representantes do PSOL levaram bandeiras do partido na manifestação, foi claro: “Desde o primeiro instante ficou caracterizado que este movimento não teria uma condução vertical,ou seja, apoiado numa ou mais siglas. Portanto não faria sentido a gente querer incorrer no erro de querer verticalizar o movimento aqui na cidade. Até mesmo porque eu outras lideranças somos reconhecidos pelas pessoas nas ruas como militantes do PSOL. Não existe esta necessidade de carimbar participação com bandeiras do partido”, avaliou.
Quando perguntado se esta movimentação deixa implícita também uma insatisfação com relação à democracia representativa ela diz que é prematuro fazer este tipo de avaliação. “É impossível prever onde este movimento vai desaguar”, observou. Acha que o processo de educação política é um longo processo. “ Nem a escola, nem os professores estão preparados de forma adequadas para ensinar às pessoas educação política porque nunca houve um projeto de governo nesta direção. Talvez a partir de agora haja uma mudança nesta visão. Eu não tenho dúvida em afirmar que este processo é indispensável para oferecer um processo de amadurecimento das pessoas que hoje protestam no sentido de se informarem melhor a respeito de como as coisas acontecem”, opina.
Violência
Ao ser confrontado com a atuação pouco amistosa de manifestantes na Câmara, Flávio Mazetto acha que houve exageros neste tipo de interpretação. “Em sã consciência, em qualquer local onde existe aglomeração, e até na escola isso é comum, a gente sempre ouve um palavrão ou outro. Não que eu defenda isso como atitude a ser seguida, mas devemos antes de mais nada compreender como este fenômeno ocorre. Na Câmara muita gente estava ali querendo uma palavra oficial, uma atitude mais compatível com aquilo que se reivindicava e volto a insistir na questão do ritual do Poder que é todo ele muitas vezes muito opaco, formal. Na ausência dos mecanismos para compreender como funcionam estes mecanismos aos quais ele não está acostumado, é natural que este manifestante extravase sua insatisfação”.
Mazzetto criticou ainda presença ostensiva de policiamento, dentro e fora da Câmara na terça-feira. “Houve ali a reedição de um esquema coronelista. Vi um Guarda municipal revistando a bolsa de uma senhora. As autoridades fizeram uma leitura totalmente inconveniente do que estava ocorrendo ali, naquele momento. O protesto foi pacífico. Não havia motivo para todo aquele aparato repressivo”, censurou.