Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Peritos da Polícia Federal exumaram hoje (9), no Cemitério de Inhaúma, na zona norte, a ossada que seria do militante de esquerda Alex de Paula Xavier Pereira, morto aos 22 anos por agentes do regime militar em 1972, em São Paulo. Os peritos coletaram fragmentos do fêmur e do úmero, além de dentes, para submeter a exame de identificação.
O pedido de exumação foi feito pela família e pelo Ministério Público e autorizado pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, no ano passado. Xavier foi enterrado sob nome falso no cemitério de Perus, em São Paulo. Em 1979, sua família encontrou uma ossada que seria do guerrilheiro.
Em 1980, os restos mortais foram trazidos para Inhaúma e, em 1998, foi feita a primeira exumação para tentar identificá-los, sem sucesso. “Para a família é importante para sabermos se é realmente o Alex. Essa dúvida persiste ao longo de mais de 30 anos. Queremos pelo menos encerrar essa etapa de que conseguimos resgatar o Alex”, disse sua irmã, Iara Xavier, que no mesmo ano perdeu outro irmão, Iuri Xavier, e, no ano seguinte, o marido, Arnaldo Cardoso, todos vítimas da ditadura.
O registro oficial da morte de Alex Xavier relata que ele teria sido morto durante um tiroteio, mas investigação da comissão especial da Secretaria de Direitos Humanos revela que ele foi torturado e executado. Segundo o procurador da República Sérgio Suiama, caso a identidade da ossada seja confirmada, será possível prosseguir com uma investigação criminal para processar os responsáveis pelo homicídio e pela ocultação de cadáver, já que ele foi sepultado com nome falso.
“São dois objetivos aqui. O primeiro é dar uma resposta à a família que há 40 anos vem procurando [descobrir] onde estão os restos mortais de seu ente querido. E também dar uma resposta à sociedade em termos de justiça e responsabilização dos autores dos crimes de homicídio e ocultação de cadáver”, disse.
Os ossos coletados pelos peritos serão levados para o Instituto Nacional de Criminalística, onde o material genético será comparado com o de membros da família, inclusive o de Iuri Xavier, irmão de Alex, que também teve os restos mortais exumados hoje.
“Esse trabalho, por si só, é uma denúncia de que, enquanto não formos a fundo nesse problema, que é do Estado brasileiro, a ditadura ainda vai persistir. Saber e esclarecer o que aconteceu com Alex é limpar um pouco do que a ditadura deixou no Brasil”, disse o coordenador-geral da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos, Gilles Gomes.
Alex Xavier, que militava na Ação Libertadora Nacional (ALN), é um dos 361 mortos e desaparecidos durante a ditadura, reconhecidos pela comissão especial da Secretaria de Direitos Humanos.
Edição: Tereza Barbosa
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