Carregando aguarde...
Itapira, 17 de Janeiro de 2025
Notícia
15/07/2015 | Plano do governo federal para estancar desemprego causa dúvidas sobre sua eficácia

 Anunciado nesta semana pelo Governo Federal, o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) prevê a oficialização de uma modalidade de negociação que até então era uma prerrogativa exclusiva das entidades sindicais e das empresas a elas jurisdicionadas, a redução da jornada de trabalho e de parte dos salários, medida tomada em casos excepcionais, mas contando com enorme antipatia dos representantes dos trabalhadores. A redação do texto final prevê que redução da jornada e do salário precisa ser aprovada em assembleias com os sindicatos para ser implementada, como já ocorre na prática.

 
De acordo com a proposta enviada na forma de MP (Media Provisória) ao Congresso Nacional pela presidente Dilma Rouseff (PT), a jornada e salários seriam cortados em 30% e o prejuízo dos trabalhadores ficaria em 15%, já que o governo alega que iria usar recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), os mesmos que pagam o seguro desemprego, para quitar esta diferença. O PPE vinha sendo gestado há pelo menos três anos, ou seja, bem antes do agravamento da atual crise e envolveu discussões com a indústria e os sindicatos. O governo teria recorrido a exemplos adotados na Alemanha, onde é forte a presença da indústria automobilística, gerando desconfianças de que também no Brasil a intenção é exatamente socorrer mais uma vez, com dinheiro público este segmento. De acordo com analistas da área econômica, fica mais barato pagar os 15% de diferença salarial do que o seguro desemprego.
 
 
 
Em Itapira o assunto também entrou no radar dos sindicalistas, do empresariado e autoridades. José Emílio Contessoto, presidente do Sindicato dos Empregados na Indústria de Alimentação de Itapira e Região, vê a medida com desconfiança. “A maior preocupação é com o fato de uma medida tomada para permitir um benefício em tempos de crise seja adotada em caráter definitivo posteriormente. A gente já viu esse filme antes. Qualquer pretexto é motivo para que volte à tona propostas para eliminar direitos adquiridos dos trabalhadores”, opinou.
 
Contessotto entende que a questão do desemprego merece sim um diálogo “transparente” entre os setores envolvidos, mas lembra que existem situações diferentes que não podem ser tratadas da mesma maneira. Indagado se no caso específico do setor de alimentação , a crise do desemprego vem batendo forte como por exemplo no setor metalúrgico, ele disse que pelo menos no atual momento “a rotatividade registrada está dentro da normalidade”.
 
 
A sindicalista Cristina Helena Gomes, do Sindicato dos Servidores Municipais, com a bagagem de ser privilegiada interlocutora dentro da Força Sindical, uma das mais influentes centrais sindicais do país, também defende medidas que aliviem o desemprego, mas prega cautela. “Os acordos precisam ser amarrados de forma a que não se tornem um instrumento para solapar mais adiante os direitos trabalhistas”, pregou. Ela desconfia também das condições do governo em bancar o que promete. “A gente sabe que o FAT não tem dado nem para pagar o seguro desemprego, o governo está em fase de contenção de gastos para fazer ajuste fiscal, de onde sairão estes recursos”.
 
Cristina afirmou ainda que apesar do organismo dos servidores públicos de todas as esferas aparentemente passar incólume ao desemprego ( possuem estabilidade garantida por Lei) , diz que a preocupação é muito séria. “A queda na atividade econômica traz a conseqüente queda na arrecadação. Com arrecadação menor, governos não dão aumento salarial e pior ainda se ultrapassar teto do limite com gastos previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal podem sim demitir”, lembrou.
 
Um empresário do setor metalúrgico da cidade, que fornece componentes para a indústria automobilística, disse que desde o final do ano passado diminuiu sua força de trabalho em 50%, algo em torno de 60 trabalhadores. “As encomendas caíram mais de 70%. Não tive outra opção. A gente segura até o último momento, até mesmo porque investimos na formação de muitas destas pessoas. Mas não tem como segurar mais”, disse. Ele duvida da eficácia da medida que o governo está anunciando. “As regras são obscuras. A impressão é que este plano foi anunciado por causa da explosão do desemprego, às pressas. Será que pequenas empresas como a minha entrarão na lista?”, questiona.
 
Comedimento


 
O secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Sérgio Augusto Lopes Pinheiro, avalia que o governo inevitavelmente teria que lançar mão de algum artifício para contenção do desemprego. Ele apregoa comedimento entre as partes envolvidas. “Evidentemente que uma situação onde você tenha que cortar a própria carne, nunca é bem vinda. Mas numa situação extrema é preciso ampliar o leque de entendimento. Melhor perder parte do salário num determinado momento do que o próprio emprego”, defende. Lopes acha que a cidade como um todo vem sofrendo os efeitos da crise setorialmente. “Alguns setores estão passando por mais dificuldades do que outros. A diversificação do nosso parque fabril, comércio e prestação de serviços, ajuda a minorar a crise do emprego num determinado momento. Mas a solução definitiva, que é a retomada do crescimento econômico, pode demorar ainda e este é o cenário que mais preocupa a curto e médio prazo.
 
Maior empregador privado da cidade, Cristália resiste

Que a crise está instalada não existe a menor dúvida. Que ela chega com maior e menor intensidade conforme o setor de atividade, também não. Para muitos itapirenses uma pergunta oportuna é como está reagindo a indústria farmacêutica? Isso porque a principal mola de desenvolvimento da Itapira atual é a indústria Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos, o Laboratório Cristália.
Dos cerca de 2,5 mil funcionários diretos, Itapira absorve quase 75% deste total. Depois da prefeitura é aquela que mais emprega na cidade.
 
 
O diretor de Recursos Humanos da empresa, Aníbal Calbucci, entende que a crise atual afeta de alguma forma todos os segmentos, em níveis maiores e menores. Usou uma metáfora, da intensidade das ondas de um tsunami, para falar do setor farmacêutico de uma forma geral. “A onda tem chegado com menor intensidade no setor de fármacos, um dos últimos segmentos a serem atingidos, mas se faz sentir. A preocupação é saber o impacto que ela continuará causando daqui em diante”.
 
Ele afirma que a direção da empresa está muito atenta a todos os desdobramentos da crise e que a questão da preservação de postos de trabalho, é tratada como uma das prioridades. “A governança do Cristália vem trabalhando de forma a evitar que seja necessário efetuar cortes na sua força de mão de obra”, reiterou.
 
Calbucci, que assumiu o posto há seis meses, lembra que a empresa que vinha numa espiral de crescimento de dois dígitos por vários anos, já refaz seus caçulos para um dígito em 2015. 
 
Questionado que medicamentos se constituem num tipo de insumo do qual as pessoas não podem abrir mão e que se esse raciocínio não seria indicador de que a crise não fará tantos estragos no setor como tem feito em outras áreas, lembrou que o consumidor de medicamentos quando confrontado com um cenário de redução da renda doméstica, se puder corta aquele medicamento que julgar que não irá prejudicá-lo a curto prazo, num primeiro momento.
 
Sobre a pretensão do governo em intervir na redução da jornada de trabalho, afirmou que se trata de uma medida anunciada num momento de incertezas econômicas e que na sua visão, a palavra entendimento é vital neste momento para que o país consiga superar seus desafios mais iminentes. “É uma medida que apresenta uma proposta bastante razoável. Analisando friamente, é melhor ter um desconto no salário durante um determinado período e ter o emprego assegurado, do que ser demitido”.
Fonte: Da Redação do PCI

Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.

Veja Também
Deixe seu Comentário
(não ficará visível no site)
* Máx 250 caracteres

* Todos os campos são de preenchimento obrigatório

2070 visitantes online
O Canal de Vídeo do Portal Cidade de Itapira

Classificados
2005-2025 | Portal Cidade de Itapira
® Todos os direitos reservados
É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste portal sem prévia autorização.
Desenvolvido e mantido por: Softvideo produções