Apesar do carnaval começar oficialmente somente em oito de fevereiro, aquelas pessoas comprometidas de alguma forma direta e indiretamente com a realização da maior festa popular do país no nosso município têm travado uma autêntica luta contra o relógio para conseguir elaborar uma programação de boa qualidade, conforme manda a tradição local.
Neste contexto, os dois blocos mais tradicionais da cidade, a Banda do Nheco Vai – Nheco Fica e o Bloco dos Bichos retratam fielmente este tipo de determinação. A reportagem de A Cidade visitou ao longo desta semana os barracões onde os responsáveis por cada uma das atrações e constatou que o que não falta é disposição e muito trabalho. O pessoal do Bloco dos Bichos trabalha nas dependências do porão da lanchonete localizada no Parque Juca Mulato. Ali, o marceneiro Arlindo Castelani, 67, comanda uma equipe de voluntários que o ajuda a montar os enormes e chamativos bonecos feitos com inspiração em alguns animais ( daí o nome do bloco) que tem como principal atrativo dizeres escritos em seu corpo aludindo a algum fato local ou de domínio público em âmbito geral.
Dizeres estes, evidentemente, carregados de uma mordacidade que segundo as más línguas teria sido o motivo principal do bloco ter deixado de desfilar por seis anos (a partir de 2007) devido à uma suposta antipatia despertada em figurões da gestão Toninho Bellini atingidos pelas ‘mensagens’ do bloco. A antiga administração sempre negou o fato e atribuiu aos próprios organizadores o fato de terem desistido de desfilar, fato este que por si só gerou muitos protestos porque diz a lenda que o Bloco dos Bichos existe há pelo menos 60 anos.
Castelani conta que devido ao tempo exíguo conseguirá colocar no máximo 20 bonecos nas ruas. “ No auge chegamos a colocar 80 deles. Mas não temos tempo suficiente para fazer mais do que planejamos para este ano. Acho que só o fato da gente voltar a desfilar irá fazer com que tenhamos para o ano seguinte condições mais razoáveis para voltamos à antiga forma”, avaliou.
Espécie de porta-voz do Bloco, onde atua desde o final dos anos 1960, Castelani conta que muito provavelmente haverá mais simpatizantes desejando desfilar do que a capacidade de absorver a todos eles, mas faz um apelo: “quem quiser dar uma força que acompanhe nosso desfile. A presença de todos será muito bem vinda”. O bloco vai desfilar no sábado e na segunda-feira de carnaval.
Um simpatizante que pediu para ter a identidade preservada contou que existe uma espécie de ‘núcleo gerencial’ que se incumbe em levantar os tópicos que serão objeto de menção durante o desfile. “ Este pessoal está muito motivado com a volta do bloco e está caprichando nas mensagens”, anunciou.
Picardia
Se os bichos são a atração no sábado e na segunda , o domingo e a terça-feira irão reservar muita picardia no novo trajeto do carnaval de rua ( o Parque Juca Mulato) com a presença em dose dupla da Banda do Nheco pela primeira vez em oito anos em nosso carnaval. A última vez que o bloco desfilou em duas datas na cidade foi em 2005, coincidentemente, início de mandato do ex-prefeito Toninho Bellini. “Tomamos esta decisão ( de desfilar em duas oportunidades) com base naquilo que ocorreu em 2005, ou seja, atendemos um pedido da nova administração, uma espécie de voto de confiança que entendemos ser a obrigação de todo cidadão que torce pelo bem estar de sua comunidade dar para aqueles gestores que estão iniciando seu trabalho”, pontuou o cartorário Devaldo Cescon, o “Pasté”, dirigente do Nheco.
Ao desfilar no domingo o bloco deixa na mão uma relação de pelo menos oito municípios que estavam na fila de espera aguardando uma resposta afirmativa de sua direção. Neste ano, além de Itapira, a Banda do Nheco desfila no sábado, 09, em Águas de Lindoia e na segunda, 11, em Monte Alegre do Sul. “ A política da Banda do Nheco não é fazer leilão. Se fosse assim teríamos propostas financeiras muito mais atraentes do que os contratos que fechamos neste ano. Pautamo-nos por uma conduta que leva em consideração a questão como da logística e o interesse dos nossos frequentadores em se deslocar para esta ou aquela cidade”, esclareceu.
Sobre o atual estágio dos preparativos, Cescon fala que “ o trabalho já está bem encaminhado”. Durante o período noturno o barracão localizado na avenida Paoleti vive uma agitação atípica. “Aquelas pessoas que fazem o que chamamos de ‘brincadeira de chão’ comparecem para criar, aperfeiçoar ou reformar seus brinquedos. E tem também o pessoal que cuida da montagem dos veículos, um trabalho que requer uma boa dose de paciência e também de especialização”, conta.
Cescon estima que serão setenta integrantes que irão vestir as famosas fantasias de palhaços. Indagado se poderia antecipar quais seriam as novidades programadas para este ano, ele se limitou a dizer que os recentes fatos mais marcantes da vida política nacional teriam um destaque maior, sobrando, evidentemente, algum espaço para ‘ocorrências locais’. “ A única coisa que realmente podemos garantir neste momento é que estamos nos empenhando para realizar um desfile dentro das tradições da banda, levando alegria, entretenimento para a população e acima de tudo, fazer a festa para nossas crianças”, prometeu.
Movimentação no barracão do Nheco tem sido intensa nos últimos dias
Pessoal que trabalha no Bloco dos Bichos já dá formato final aos bonecos que voltam depois de seis anos de ausência ao carnaval de rua