Esta quinta-feira assinala o primeiro ano de funcionamento do inovador programa de atendimento voltado especificamente aos usuários de crack, envolvendo uma parceria entre o Instituto de Psiquiatria Américo Bairral e o governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria de Saúde. As instalações da Fazenda Santa Carlota foram adaptadas para recepcionar o projeto, que tem apoio técnico da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e atraiu em sua inauguração o próprio governador Geraldo Alckmin.
Atendendo solicitação do Jornal A Cidade, o Assistente Social e coordenador técnico da Comunidade Terapêutica Santa Carlota (nome oficial do programa) e Especialista em Dependência Química, Maurício Landri, fez algumas considerações sobre o primeiro ano de funcionamento. De acordo com sua avaliação, os resultados obtidos até o momento vêm ao encontro à pretensão da pareceria em oferecer um atendimento de qualidade. “A Fundação Espírita Américo Bairral prima pela qualidade e excelência de seus serviços, que nos possibilita oferecer um programa de reabilitação que auxilia na reconstituição dos vínculos familiares e no processo de construção da consciência cidadã de cada usuário atendido. Apesar de estarmos há apenas um ano adequando o programa às necessidades dos usuários, temos resultados que nos motivam continuar melhorando a cada dia”, considerou.
Conforme divulgou, atualmente todas as 80 vagas estão preenchidas com pacientes dependentes não somente do crack, mas também de álcool e de outras drogas, “todos maiores de idade e do sexo masculino”. Estão sendo atendidos pacientes de 49 municípios e segundo estimativa dos responsáveis, 25% são de Itapira.
Landri disse que não dispunha de informações sobre o custo do tratamento e a forma como vem sendo bancado, restringindo-se a afirmar que o Serviço Único de Saúde (SUS) é quem custeia o funcionamento do projeto. Um pedido de informações foi enviado para a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Saúde, mas a mesma não informou.
Do ponto de vista prático, o coordenador diz que embora os resultados estejam dentro do esperado, as dificuldades inerentes a esse tipo de tratamento não podem ser desprezadas. Segundo ele o principal objetivo do programa continua sendo a plena reintegração desses indivíduos no seio da sociedade. “A reinserção social dos usuários de álcool e outras drogas é um processo que requer uma atenção especial de vários agentes sociais como família, grupos de amigos e relações interpessoais, trabalho, escola ambientes microssociais e serviços da rede de atenção que possam auxiliar nesse processo como os CAPs ad, CRAS e CREAS, grupos de mútua ajuda como AA, NA, Amor Exigente, Pastoral da Sobriedade dentre outros. Procuramos criar um vínculo saudável com os pacientes que completam o tratamento através do contato por telefone, de visitas à CT e redes sociais. Muitos vêm de lugares distantes que não dispõem de uma rede que possa ajudá-lo nesse processo. Todo tratamento de uma doença crônica, tais como hipertensão ou diabetes, a recaída acontece com um número significativo dos pacientes. No caso da dependência química não é diferente. A recaída se manifesta, na maioria dos casos, naqueles que se afastam da programação sugerida, voltando aos velhos hábitos e companhias do tempo do uso. Também acontece com dependentes que além do uso de substâncias apresentam uma comorbidade, outra psicopatologia, levando alguns desses pacientes ao uso novamente. Infelizmente, a recaída está presente em todos os modelos de tratamento”, lamentou.
Modelo
O bom funcionamento do método aplicado em Itapira pode, na opinião do especialista, criar uma sinergia de modo a estimular outras cidades a adotar um processo de tratamento que traga a reinserção social dos dependentes. Nosso objetivo é oferecer um modelo de reabilitação psicossocial de qualidade e acessível aos usuários. “Nosso objetivo é oferecer um modelo de reabilitação psicossocial de qualidade e acessível aos usuários. Acreditamos que com isso, os municípios possam, através de nossa experiência, reaplicar o modelo que devolve a dignidade e possibilita a reconstrução dos vínculos familiares e prepara o paciente para sua reinserção e reintegração social”, finalizou.
Instalações foram inauguradas no ano passado com presença do Governador Geraldo Alckmin
Maurício Landri destacou também as dificuldades inerentes ao tratamento de dependentes