O principal assunto da semana, aquele que dominou o noticiário na maior parte do mundo nesta semana foi o anúncio feito pelo Papa Bento XVI na segunda-feira, dia 11, que renunciou ao cargo de sumo pontífice, líder maior da Igreja Católica. Estabeleceu a data de 28 de fevereiro como seu último dia exercendo a função. A partir daí um colegiado formado por 118 cardeais com menos de 80 anos de idade irá conduzir o ‘conclave’ que escolherá entre um deles quem será o futuro Papa.
Aqui em Itapira a decisão causou um misto de perplexidade e ansiosidade, especialmente, é claro, entre os católicos e até entre não católicos, como foi o caso do Reverendo Luiz Fernando dos Santos, 43, Mestre da Igreja Presbiteriana Central do Brasil. Teólogo, com mestrado feito na Universidade Gregoriana de Roma, Santos foi Monge Cirstenciense durante 16 anos, antes de, por questões pessoais, deixar a Igreja. Cuidadoso com as palavras, ele elencou uma série de considerações sobre a renúncia do Papa, enxerga no gesto de Bento XVI um reforço na necessidade “de reformar e atualizar a Igreja como um eco vindo do cinquentenário do Concílio Ecumênico”, disse em alusão aos 50 anos do Concílio Vaticano II. Ele considerada ainda que a despeito da torrente de fatos abordados sobre o assunto de forma avassaladora pela mídia e de ilações de “vaticanistas de última hora” abordando temas subterrâneos sobre o Vaticano, deve ser dado crédito aos motivos alegados pelo próprio Papa para sua renúncia. “ Não há porque duvidarmos da saúde precária, do exaurimento de suas forças espirituais e físicas que o impediram de imprimir o dinamismo que a sua função exige” ( veja suas considerações na íntegra na Página B-3 desta edição).
As religiosas Maria Odila e Nilva Aparecida, da Congregação de Nossa Senhora do Calvário, mostraram-se refeitas da surpresa causada pelo anúncio da renúncia. “Evidentemente que como todas as pessoas recebemos a notícia ( da renúncia) com surpresa. Depois de tudo o que já foi dito, eu entendo que foi um gesto de despojamento, humildade e de dignidade que nos leva a refletir sobre esta sua atitude. Pessoalmente sou uma das pessoas que enxergavam a necessidade de uma correção de rota em determinados aspectos na condução da Igreja e acho que o gesto de Bento XVI veio exatamente nesta direção.Vamos rezar para que o futuro Papa esteja à altura destes desafios”, colocou. Nilva também opinou acrescentando que o atual momento é muito propício a especulações. “ A mídia de uma forma geral explora o assunto de maneira sensacionalista. É preciso cautela com o que se fala”, asseverou. Ambas colocaram que o próprio ineditismo da atitude de Bento XVI em tempos modernos alimenta toda especulação em torno do assunto, acrescentando que elas como religiosas de uma congregação pontifícia acreditam que “a alma da Igreja é conduzida pelo Espírito Santo” e como tal, ele inspirará os cardeais que irão escolher o futuro Papa a fazer a melhor escolha.
Padre Francis Tadeu de Oliveira Mistrelli, titular da Paróquia de Nossa Senhora da Penha há seis meses disse que a exemplo dos fiéis também recebeu a notícia com ‘enorme surpresa’. Ele conta que o assunto tem monopolizado a conversa com os fiéis e que tem procurado transmitir serenidade, pregando “ a fé e a certeza de que Deus conduz a Igreja”. “Precisamos fazer muitas orações para o futuro Papa , para que ele tenha a sabedoria e a inspiração necessária para conduzir todo seu rebanho”,colocou.
Bispo de Amparo comentou a renúncia
D. Pedro Carlos Cipolini, Bispo de Amparo, enxergou na renúncia de Bento XVI algo que já vinha sendo amadurecido. “Pareceu-me um ato muito bem pensado e decidido, um gesto de humildade e coragem, feito pensando no bem da Igreja como ele mesmo ressaltou. A ele nossa gratidão e respeito”, posicionou-se. Diferentemente de outros representantes da própria Igreja que sentem desconforto em abordar temas relacionados à luta pelo Poder dentro da Cúria Romana, Cipolini avalia que além da questão da saúde fragilizada, a decisão de Bento XVI levou em conta estes problemas da luta intestina dentro do Vaticano. “Penso que sua saúde debilitada pela idade influiu em primeiro lugar, a seguir a consciência apurada que ele tem das exigências do cargo, ao qual ele julga não mais corresponder e por fim, a situação difícil no interior da Igreja; mais precisamente sua dificuldade de organizar a Cúria Romana, composta de seus auxiliares mais próximos, como amplamente é noticiado nos meios de comunicação. O próprio papa dá a entender esta situação”, analisou
Considerou extremamente positivo o período em que Bento XVI Estée no comando da Igreja, avaliando que o considera “um excelente teólogo”. Destacou ainda que e chamou sua atenção em seu magistério o fato de “ter recordado à Igreja o primado da caridade (sua encíclica Deus charitas est)”. “Também recordou que a caridade deve brotar da fé: “a fé age pela caridade”, como ensina S. Paulo. O Santo Padre Bento XVI recordou-nos o primado da fé, o primado de Deus. O primeiro lugar na nossa vida não é da ação, do “ego”, das coisas, nem da natureza, mas de Deus. É neste sentido que proclamou o Ano da Fé que estamos vivendo. Ele recordou à Igreja o essencial e isto foi bom”, aprovou.
Ele avalia que a situação criada não irá fragilizar de forma alguma a Igreja Católica. “Em primeiro lugar fazer refletir. Jesus Cristo é o Senhor da Igreja, é Ele a referência última que dá segurança e perenidade, e não o papa. Na força do Espírito Santo a Igreja encontra sua energia, porque Ele nos torna presente Jesus Cristo e aponta o caminho para segui-lo. Porém é claro nos Evangelhos, que Jesus desejou e instituiu o ministério de Pedro de quem o papa é sucessor. É o ministério de presidir a Igreja na caridade para mantê-la unida. Usando a prerrogativa da renúncia prevista no Direito da Igreja para o papa, e que já é praticada para os bispos ao atingirem certa idade, o papa Bento XVI torna o papado mais humanizado. Este fato também pode favorecer um maior respeito e colaboração dos auxiliares do papa para o futuro, levando a cabo a reforma da Cúria, prevista pelo concílio Vaticano II e efetivada em parte pelos papas sucessivos. Penso que a mensagem subliminar do papa com sua renúncia é fazer perceber a necessidade da reforma da Cúria para melhor servir ao papa e à Igreja, reforma que ele não sentiu energia para realizar. A Cúria presta uma grande serviço ao papa, mas como todo organismo eclesial, aliás a própria Igreja precisa sempre de renovação: “semper reformanda” diz o documento conciliar sobre a Igreja (cf. LG n.8)”, ponderou.
Por fim fez uma espécie de convocação aos fiéis para que se mantenham firmes na fé. Trabalho para que possamos nos manter como os discípulos no cenáculo, junto com Maria, unânimes em oração, buscando com humildade discernir a vontade de Deus. O tesouro da Igreja é Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre. Ele é o nosso pastor, ressuscitado está no meio da Igreja pois Ele mesmo prometeu: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos”. Não tenhamos medo, mas confiança. Que esta certeza nos anime a continuar nossas tarefas e nossa missão de dar testemunho dele ao mundo, sendo discípulos e missionários de verdade. Vivamos a alegria da Campanha da Fraternidade/2013 e nos preparemos com entusiasmo para a Jornada Mundial da Juventude que trará até o Brasil o novo papa. E rezemos pelos cardeais que irão escolher o novo papa, precisarão muito de nossas preces. E que acolhamos o novo papa com devoção e carinho”, encerrou.