Uma semana de comoção na cidade em virtude dos desdobramentos de violentos acidentes no trânsito – todos eles envolvendo motocicletas – que produziram uma sinistra estatística de seis mortes desde o começo do ano, quando um acidente envolvendo duas motos deixou um saldo de três mortos no bairro de Barão Ataliba Nogueira no dia 25 de janeiro. E esta estatística pode aumentar.
Um dos envolvidos no acidente registrado terça-feira, 08, quando faleceu o instrutor de auto escola Roger Ferreira Santos Fisher, 26 - o metalúrgico Vinícius Lopez de Almeida, 18, permanece internado em estado grave na Santa Casa. Informações não confirmadas oficialmente dão conta de que ele teria tido uma das pernas amputadas em virtude dos ferimentos que recebeu, embora a família não confirme.
O sinistro encadeamento de fatos começou na quinta-feira, 03, em Barão Ataliba Nogueira, quando um automóvel Gol colidiu contra a moto conduzida por Jean Rodrigues de Lima. Lima, recebeu ferimentos graves e veio a falecer uma semana após o acidente. Na madrugada de domingo, 06, na avenida Comendador Virgolino de Oliveira, perto da Viação Mirage, duas motocicletas, uma Honda Bizz e uma Honda Titan colidiram frontalmente. O aposentado Benedito de Oliveira , que pilotava a Bizz, morreu pouco depois de dar entrada ao Hospital Municipal.
Ainda no calor da onda de indignação desse caso, ocorreu outra absurda colisão frontal de terça-feira de manhã. O caso ganhou ainda maior dramaticidade pelo fato da vítima ter como profissão exatamente ensinar pilotos a trafegarem de forma correta nas ruas. Roger Ferreira Santos Fisher, de 26 anos, trabalhava na Auto Escola Brasil há pouco menos de seis meses. Consta que o outro envolvido não possuía habilitação. Fisher era um jovem muito estimado na cidade.
Em seu sepultamento compareceram colegas de profissão de praticamente todas os CFCs (Centros de Formação de Condutores) da cidade. O sentimento era de indignação. “ A gente ensina corretamente. Depois o cara pega sua carta (carteira de habilitação) sai por aí pilotando moto a 100 km por hora e acha isso normal. Fazem do carro e da moto uma arma”, disse Leandro Roberto, 30 anos, instrutor da Auto Escola JB.
Rogério Gonçalves, da Auto Escola Santa Cruz, era todo indignação. “Do jeito que está não pode continuar mais. É preciso melhorar a fiscalização e dar um jeito de aumentar a conscientização das pessoas sobre a necessidade de se ter um melhor comportamento no trânsito”, defendeu. Newton Aparecido Cardoso, da Auto Escola Nacional, estava inconsolável. “O que mais posso dizer? A gente se esforça tanto para ensinar tudo da forma correta. Depois que a pessoa tira sua habilitação se acha no direito de fazer tudo errado”, disse inconformado. Arnaldo Consorti, agente da Ciretran, acha que a legislação deveria ser ainda mais dura com a primeira habilitação. “Defendo que a pessoa só tire a habilitação de moto depois que tirar a de carro. É preciso adquirir uma certa experiência antes”, disse. Consorti tocou ainda num outro ponto que gera muita discussão: utilização de radares.
Na opinião dele e de outros colegas, redutores de velocidade como lombadas não inibem motociclistas a exercer velocidade incompatível. “Lombada é rampa para motociclista”, disse Cardoso.
Epidemia
Considerado um dos maiores especialistas em instrução de motociclistas em todo o Brasil, José Luiz Lima , de Bragança Paulista, participou nesta semana em Itapira de um treinamento especial para Policiais Militares. Questionado sobre os recentes fatos registrados em nossa cidade, disse que Itapira não é diferente de outras cidades. “Infelizmente os acidentes de trânsito estão se tornando uma epidemia e o envolvimento de motocicletas tem se mostrado apavorante. Em Bragança Paulista respondem a quase 80% das ocorrências no trânsito tem motocicleta envolvida”, afirmou. Questionado sobre a formação dos motociclistas, ele fez questionamentos. Segundo declarou, nos centros de formação “ensina-se que não deve ser usado o freio da roda dianteira, quando é este que para a moto”, questionou.
José Carlos Domingues, presidente do Conseg (Conselho Municipal de Segurança) afirmou que o órgão há muito tempo vem alertando para o número absurdo de mortes no trânsito da cidade. Para ele, casos como os recentemente registrados na cidade causam comoção e no vácuo desse sentimento prosperam pedidos de providências. “Vamos novamente tentar engajar a sociedade local numa ampla campanha de conscientização”, prometeu.
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