Às vésperas da celebração do Dia do Motorista, que é comemorado no dia 25 deste mês o jornal A Cidade foi ouvir alguns deles, todos já muito experientes na profissão, a respeito do que pensam sobre os elevados índices de acidentes – muitos com vítimas fatais - que ocorrem de forma quase que sistemática na cidade. O diagnóstico de cada um varia um pouco conforme o entendimento específico das situações que ocorrem no dia a dia de quem está dirigindo, mas convergem para vários pontos em comum como o desrespeito à sinalização, velocidade inadequada, aumento da frota de veículos, popularização das motocicletas e questionamentos a respeito da formação dos condutores.
José Carlos Conduzo, 51, exerce a profissão de motorista desde 2002. Começou transportando estudantes pela empresa Itaguaçu e alguns anos depois já integrava os quadros da Viação Itajaí. Atualmente é o responsável por fazer a linha que atende moradores do Bairro da Ponte Nova. Conduzo disse que a cada dia presencia pelo menos uma situação de perigo em seu trabalho. “A gente se preocupa principalmente com os motoqueiros. A maioria não respeita regras mais elementares de trânsito, andam acima da velocidade permitida , ultrapassam onde não devem e alguns são ainda desaforados”, comentou. Ele afirma que no trânsito a principal virtude do motorista deve ser exatamente não se estressar com este tipo de situação. “Você tem que contar até dez. Irritar-se só vai atrapalhar ainda mais”. Ele acha que das 17h00 às 19h00 é o pior horário para dirigir. “É muito carro, muito caminhão, muita moto”. Além da paciência , recomenda muita atenção. “Dirigir sempre defensivamente e observar os movimentos dos outros motoristas são regras essenciais para evitar problemas”, admite.
A falta de respeito é na opinião de Carlos Roberto de Souza, 51 anos , o grande problema no trânsito hoje em dia. Com 32 anos como profissional do volante, já dirigiu carretas e há 26 anos dirige ônibus, Souza integra a equipe de colaboradores da Viação Mirage. Tem em seu currículo passagem pela famosa Viação Cometa e por vários anos percorreu o trecho São Paulo-Poços de Caldas-MG. “Hoje em dia com o aumento do número de veículos, aumenta também a presença de motoristas despreparados nas ruas” aponta. Ele questiona e a formação dos motoristas hoje em dia tem a ver com tantos abusos. “Eu penso que as auto-escolas são bem preparadas, mas o que a gente fica imaginando é se de fato existe um trabalho de conscientização com os novos motoristas sobre a importância de impor um respeito no trânsito. Eu não vejo esse respeito, muito pelo contrário”, opinou. Souza disse que sempre procura dirigir o mais defensivamente possível. “Dar a preferência”, segundo seu entendimento “é sempre fundamental”.
A questão da formação é apontada também por José Augusto Godoy Costa, 48, como fator para melhorar a convivência no trânsito. Com 30 anos de profissão, Godoy é motorista de ambulância da Secretaria de Saúde do Município. Por 23 anos foi detentor do cargo simbolicamente apelidado de “primeiro motorista”, aquele que tem a responsabilidade de conduzir o prefeito. Ele acha que deve existir uma somatória de esforços dos vários setores da sociedade para uma espécie de vigília permanente, objetivando tornar a questão da educação no trânsito algo permanente e duradouro. “Quanto mais você falar, melhor é. Acho que medidas como aplicar multas são algo paliativo.Pode resolver num primeiro momento, mas depois as coisas continuam do mesmo jeito. É preciso investir em educação e conscientização”, defendeu.
Personalidade
José Vicente da Silva, também conhecido como Vicente Enfermeiro, apesar do apelido, é motorista profissional. Fez toda sua carreira dentro da Usina Nossa Senhora Aparecida, onde por mais de 20 anos dirigiu ambulância e atualmente é um dos profissionais aos quais cabe a responsabilidade de conduzir os proprietários. Vicente afirma que cada dia mais fica impressionado com a falta de compostura da maioria dos motoristas e acha que o problema principal é a personalidade que muitas pessoas assumem ao pegar o volante nas mãos. “Os carros estão mais potentes e mais seguros, a sinalização é mais eficiente. Pelo menos aqui em Itapira a gente observa o empenho das autoridades de trânsito para dotar a cidade de uma boa estrutura neste sentido. E a resposta dos motoristas é quase sempre em sentido contrário, ou seja, existe um enorme desrespeito às regras de trânsito, os limites de velocidade quase nunca são respeitados e a maioria das pessoas não demonstra qualquer tipo de cordialidade, algo que por exemplo, não ocorre em São Paulo, cidade que tem a maior frota de veículo do país. Alguma coisa está errada e é preciso repensar tudo isso antes que mais pessoas percam a vida de forma tão estúpida como vem ocorrendo sistematicamente em nossa cidade”, alertou.